PEDRO:
MENSAGEIRO E MENSAGEM
Perspectivas
sobre sua narrativa
1 This letter is from Peter, an apostle of
Jesus Christ. I am writing to God’s chosen (...). 1 Peter 1:1 (NLT )
Sobre as cartas de Pedro é dito que "(...) estão escritas num
grego de complexidade e sofisticação surpreendente: aliás, da 1ª Carta de Pedro
pode se dizer que é o texto mais rebuscado (e, em muitas passagens, mais difícil
de traduzir) de todo o Novo Testamento. Estilo, vocabulário raro e barroquismo
sintático revelam um autor que teve o privilégio de receber uma boa
escolaridade helênica, um treino competente no âmbito da retórica helenística"( Frederico Lourenço in Bíblia - Novo Testamento).
A erudição com que foi escrita as cartas de Pedro no original
grego, nos põe diante do seguinte
dilema: Como um homem com pouca ou nenhuma instrução como Pedro, o
que sabidamente nos é confirmado pela própria escritura (At 4:13), teria
escrito esta carta em grego com tamanha erudição?
Temos duas possíveis respostas e duas lições:
1. Dedicação :
consciente da sua condição em relação às letras, deve ter se dedicado muito
para
aprender, compreender e dominar o seu idioma e também o grego.
Lembrando que, primeiro,
ninguém tem certa erudição num segundo idioma se também não o
tiver no seu idioma materno e, segundo, ter erudição num outro idioma exige
muito mais tempo, uma vez que o aprendizado de um segundo idioma sempre se dá
através de palavras mais simples, uma vez que a intenção é que se possa fazer
entender ao mínimo com outra pessoa e assim estabelecer um contato razoável.
2. Humildade e objetividade : consciente da sua condição em relação às letras, deve ter
buscado o auxílio de um terceiro que pudesse não só transcrever o que ele dizia
(o que era comum naquela época), mas também fazer às devidas correções
gramaticais, não só em relação ao uso e grafia das palavras mas também em relação
ao arranjo delas, dando ao texto introdução, desenvolvimento e conclusão, por
exemplo, mas sem alterar o conteúdo apostólico da mesma. Isto exige humildade,
um atitude de desprendimento do que vão pensar sobre si e, ao mesmo tempo, o
estar mais preocupado com a longevidade e compreensão do seu texto e do que se
pretende dizer. Longevidade esta demonstrada pelo fato de que seu escrito
chegou até nós, 2000 anos depois. E compreensibilidade demonstrada pela lógica
e encadeamento do texto escrito, pois se estivesse mal escrita geraria um texto
cheio de incongruências e com possíveis má interpretações que poderiam levar até
heresias.
Das duas respostas, a segunda opção parece mais plausível. Das
duas lições, ambas são preciosas. Em resumo, somos encorajados a priorizar os
ouvintes e a compreensão dos mesmos sobre nossa mensagem, para que fique bem
claro a eles o que pretendemos dizer, em contraposição ao que vão pensar sobre
nós e sobre nossa capacidade de produção intelectual ou ausência da mesma.
O ensino bíblico é que devemos "julgar as profecias e não os
profetas”, 1Cor 14.29. Cabe ao
mensageiro entender que, ao dizer isto, as escrituras qualificam a
profecia como mais importante do que o profeta, e que o que está em risco é o
que Deus quer dizer e não o que vão pensar do mensageiro.
Curioso é que a Bíblia nos ensina mesmo quando não usamos nenhuma
passagem dela e apenas
estamos fazendo uma descrição e estudo sobre o autor do texto
(produção textual, narrativa,
intenção, estilo, personalidade, etc).
Que sejamos como Pedro. Que sejamos como Cristo!
David Jesus de Almeida.
Diácono.